A professoralidade precisa ser sacudida Neila Baldi style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> O professor Marcos Vilela diz que: "não é pelo simples fato de passar por um curso de formação (seja uma licenciatura, seja magistério) que alguém vem a ser professor. Segundo ele, "vir a ser professor é uma diferença de si que o sujeito produz culturalmente (no campo coletivo), num dos inumeráveis movimentos de constituição no mundo." Vamos nos constituindo professores(as) ao longo de nossas vidas... Ao pensar sobre a minha professoralidade, lembro do meu primeiro desafio: empoderar o Márcio, um guri de 14 anos, repetente, da quarta série do Colégio Estadual Paraná, onde eu fazia meu estágio final do Magistério. Márcio era morador da Vila Cai-Cai, criado pelo pai e madrasta e tinha que cuidar de si: fazer seu almoço, lavar suas roupas etc. Tive que compreender a história do Márcio para fazê-lo se sentir pertencer ao grupo. Percebo que não apenas a minha professoralidade foi se formando, ao longo deste tempo, como minha visão de escola pública. Nos anos 1990, quando o Alceu Collares criou o calendário rotativo e colocou para dentro do Instituto de Educação alunas que não passaram pelo teste de seleção, fiquei indignada. Sim, eu defendia a meritocracia. E se me falassem de cotas, naquela época, não aceitaria. É PRECISO ESCUTA Passaram-se 30 anos e, felizmente, minha visão de mundo foi se modificando e ficando mais inclusiva. Mas, talvez, a experiência mais transformadora tenha sido viver e lecionar no interior da Bahia. Era minha primeira experiência como professora universitária e cometi um erro: queria que eles(as) fossem a estudante que fui. Inclusive, quando falavam da falta de tempo para estudar, pois trabalhavam, eu lhes respondia que fiz minhas duas graduações trabalhando. Foram três anos entendendo que muitos(as) estudantes tinham histórias de vida como a do Márcio, que muitos(as) estavam na graduação a contragosto da família, que muitos(as) eram o primeiro diploma universitário da família. Hoje, estou em outra universidade, e cada vez mais tenho certeza de que um título de doutor(a) não me capacita a ser professor(a). É preciso escuta. Ou processos formativos autobiográficos para rever trajetórias, dificuldades e privilégios, e compreender as diferenças geracionais e socioeconômicas de nossos(as) estudantes. A diversidade presente na universidade é diferente do que vivemos quando fomos universitários(as). Se um dia defendi que apenas privilegiados(as) estivessem na escola pública de qualidade _ como o Instituto de Educação -, se um dia não acreditei nas cotas, hoje, defendo uma escola pública de qualidade, inclusiva, em todos os níveis da educação. E não tenho vergonha em dizer que mudei minhas visões de mundo. Porque fui sacudida por estudantes. |
"Erros" que dão certo Noemy Bastos Aramburú style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Hodiernamente, estamos vivendo um momento de mudanças, de desconstrução generalizada, valores, costumes, rotinas, religiosidade, datas festivas, tradições, e isto à nível mundial. Um exemplo deste fenômeno, foi o casamento real do príncipe Harry com a Rachel do seriado Suits, que iniciou uma série de quebras de tradições na realeza, desde a escolha do vestido da noiva usou, até a escolha dos médicos e do local para o nascimento de seu bebê, maternidade próxima a sua casa em Windsor, ao invés do Hospital St Mary's, em Paddington, quebrando uma tradição de 40 anos. Outro exemplo de quebra de tradição, foi o site Astronomy Picture of the Day, da Nasa, que no dia 2 de junho de 2020 divulgou, o registro de uma célula humana sendo atacada pelo novo coronavírus, quebrando a tradição do endereço virtual, que só apresentava imagens espaciais. CONTEXTO Mas a quebra de uma tradição não pode ser rotulada de positiva ou de negativa, depende do contexto. No Brasil, podemos citar várias desconstruções. Em 7 de novembro de 2019, o presidente Bolsonaro quebrou uma tradição de quase três décadas, ao votar a favor da manutenção do embargo econômico a Cuba, em uma votação realizada na Assembleia Geral das Nações Unidas. O posicionamento inédito partiu de uma orientação do presidente Jair Bolsonaro e da tentativa de se alinhar à Washington contra o regime socialista de Cuba. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ao se manifestar nas redes sócias obre a voto do presidente, disse: "o Brasil votou a favor da verdade, nada nos solidariza com Cuba. O regime cubano, desde sua famigerada revolução 60 anos atrás, destruiu a liberdade de seu próprio povo, executou milhares de pessoas, criou um sistema econômico de miséria e, não satisfeito, tentou exportar essa 'revolução' para toda a Em Latina". CORAGEM Mas o que há de comum nestes três casos de quebra de tradições, locais diferentes, pessoas diferentes, contextos diferentes? A coragem. Meghan Markle, com coragem, enfrentou a realeza e os ingleses; a Nasa com coragem enfrentou as críticas de que aquele assunto não era para ser tratado por ela, já que não era espacial; e o presidente? Seu comportamento ao votar pelo embargo juntamente com os EUA e Israel foi entendido como uma atitude de fraqueza, frente à pressão de Donald Trump, já que até mesmo os governos de extrema-direita como a Hungria e Polônia votaram contra, os mais contrariados, definiram a quebra da tradição feita pelo presidente, como um comportamento radical do "bolsonarismo". Mas o certo é que, às vezes, as quebras de tradições são necessárias para criar novas tradições. |